quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O reflexo mais sombrio

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Imagem de Joana Rodrigues da Silva



Esta investigação insere-se no estudo de uma fração do passado, não tão distante mas que realça as diferenças da estrutura socioeconómica de um país e sobretudo, de uma região em particular, uma localidade rural.

Um trabalho no âmbito do ‘Arquivo e Memória’ requer uma pequena ‘viagem no tempo’ de forma a conceber reflexões válidas que possibilitem que o projeto tenha um desfecho plausível.

Durante a investigação efetuada, foi seguida uma linha de pensamento, nomeadamente de Michel Foucault, no que toca ao estudo dos espaços de encarceramento e a função dos mesmos para a sociedade.

Michel Foucault preocupou-se em estudar como determinadas instituições definem o que é um ser humano normal e aquele que tem comportamentos desviantes da norma, tendo por isso uma ‘etiqueta’ sempre associada. A prática do discurso em diversos estratos sociais remete para a noção daquilo que é socialmente aceite e moralmente correto.

É possível também identificar que o poder não emana de um estrato social mais alto para o mais baixo, mas sim que este se verifica em situações em que de um lado alguém exerce o poder e do outro alguém é subjugado.

O regime da verdade impera no discurso das testemunhas, daquelas que de alguma forma estiveram do lado de lá das pedras, que trabalharam dentro da clausura.

O papel da religião no Alto Minho e nos seus espaços de encarceramento era fundamental para a ressarcimento do corpo e da alma, privados de se exprimir.

A referência de que os presos pediam esmolas e cigarros através de uma lata e um cordel espelha que os mesmos tinham encontrado um sistema popular de suprimir a total reclusão.

A crise que assolou Portugal no regime do Estado Novo determinou com clareza que os indivíduos que cometem crimes, os loucos e insanos não deveriam ter um melhor tratamento do que aqueles que pertenciam à classe social e económica mais baixa. Isto porque a pobreza e a precaridade eram uma constante nas regiões rurais, sobretudo em Ponte de Lima.

O espaço de encarceramento é visto como o reflexo mais sombrio da sociedade e da época história em que está inserido. Não é mais do que o pior que poderia existir. 



Joana Rodrigues da Silva