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O ‘pai do fotojornalismo’, o pintor/fotógrafo francês, o incessante explorador das ruas citadinas e o filho congénito do surrealismo.
O trabalho de Henri Cartier-Bresson espelha muito mais do que as etiquetas
que lhe foram atribuídas consonantes com o tipo de trabalhos em que se
aplicava. Bresson apaixonou-se pela fotografia, pela possibilidade de fixar uma
eternidade numa fração de segundo. Para ele a máquina fotográfica era a
extensão dos seus olhos.
A exploração das ruas através de uma objetiva tornaram-se o seu quotidiano.
Bresson devorou com paixão todos os momentos que se destacavam pelo seu
potencial imagético. Vivia confinado ao poder magnífico dos filmes a preto e
branco, esperando que os habitantes das ruas, a luz solar e o seu corpo confluíssem
numa única tela, num único momento. Isto é, deixou de criar à sua imagem,
imagens que fossem interessantes, deixando à obra do acaso, à obra das peculiaridades
da vida, o desenho das suas fotografias.
No sentido lato da expressão, Bresson ficou ‘preso’ à fotografia, às suas
inconstâncias, movendo-se pelas leis da natureza. Um verdadeiro retrato de uma
sociedade depende da sua oscilação nas ruas onde se edificam peças de teatro,
que espelham uma realidade espontânea e um jogo de máscaras.
A sua carreira como fotojornalista, etnógrafo e consequentemente, artista,
cessou quando integrou o exército francês aquando da Segunda Guerra Mundial.
Bresson foi mantido como prisioneiro político, mas após duas tentativas falhadas,
conseguiu escapar e subsistir ao conflito através do subsolo, até o findar da guerra.
Os olhos de Bresson foram os olhos do mundo em momentos históricos,
captando personalidades que, tal como Henri, mudaram a forma de ‘ver o mundo’. O pai do fotojornalismo esteve presente no funeral de Ghandi em 1948,
captando o corpo de um mártire que injustamente se descolou da alma, através da
violência que renegou durante a sua passagem.
Também publicou, em 1953, ‘O Momento Decisivo’, um livro que abarca 126
fotografias do Oriente e do Ocidente (http://www.youtube.com/watch?v=hyhMqDfmG9o#t=77).
Bresson fotografou retratos soberbos de Jean-Paul Sartre, Simone de
Beauvoir, Truman Capote e Albert Camus.
Uma das suas últimas fotografias com mais sucesso e visibilidade é um
retrato experimental captado em 1975, de um prisioneiro numa cela de isolamento (mais conhecida como ‘solitária’) em
New Jersey, EUA. É uma das figuras mais intrigantes captadas por Bresson, por espelhar
um estilo mais forense, frequente nos fotógrafos contemporâneos, ao invés do
seu cunho na ‘fotografia expressiva de rua’.
Joana Rodrigues da Silva